sexta-feira, 10 de agosto de 2012

Livros que recomendo (VII)

Há quatro anos tive a feliz oportunidade de conhecer brevemente a vida de São Thomas More através do primeiro esboço da monografia do então quase filósofo Rodrigo Jovita, que nos idos de 2008, concluía sua licenciatura em filosofia rumo a outra etapa de sua formação para tornar-se presbítero, que pela graça de Deus aconteceu no dia 13 de julho de 2012. Naquele período final da filosofia, meu amigo Pe. Rodrigo me concedeu a leitura de sua monografia intitulada "A 'Utopia' de Thomas More e a tensão entre justiça e liberdade"

Confesso que pesquisei ligeiramente sobre a vida desse santo, que foi ex-chanceler do governo britânico no tempo de Henrique VIII, ou seja, participou do alto escalão do governo, tendo em vista sua inteligência e destreza como advogado e estadista. Todavia, o súdito fiel do rei acabou sendo preso a pedido do rei, que culminou em sua morte no dia 6 de julho de 1535 por decapitação, após passar pouco mais de um ano preso na Torre de Londres.

O célebre humanista inglês é um dos grandes exemplos para os homens e mulheres dos dias atuais, principalmente quando somos seduzidos cotidianamente por ideologias que buscam solapar a verdadeira fé em Jesus Cristo e Sua Igreja. No livro "A sós, com Deus - Escritos da prisão", algumas cartas do santo foram guardadas para as gerações futuras, ao passo que hoje percebemos o quanto sua firmeza e humildade nos "escandaliza". É impressionante como São Thomas More soube guardar intacta sua fé, haja vista o direito inviolável que é a liberdade de pensamento que resguarda nossa consciência. 

Na Constituição Pastoral Gaudium et Spes no Concílio Vaticano II, que está explítica no Catecismo da Igreja Católica no parágrafo 1776, destaca-se: "Na intimidade da consciência, o homem descobre uma lei. Ele não a dá a si mesmo. Mas a ela deve obedecer. Chamando-o sempre a amar e fazer o bem e a evitar o mal, no momento oportuno a voz desta lei ressoa no íntimo de seu coração... É uma lei inscrita por Deus no coração do homem.. A consciência é o núcleo secretíssimo e o sacrário do homem, onde ele está sozinho com Deus e onde ressoa sua voz".

São Thomas More soube muito bem guardar sua consciência segundo os ditames de sua fé cristã, pois negou-se insistentemente a prestar o juramento através do Ato de Supremacia no qual o Rei (na época Henrique VIII) era declarado Cabeça Suprema da Igreja da Inglaterra, fato decorrente do "The King´s Matter" ou o "assunto do Rei", que objetivava a declaração por parte da Santa Sé da nulidade do casamento do Rei Henrique VIII com sua esposa Catarina de Aragão (que não lhe deu herdeiro homem) para poder se casar com Ana Bolena. Como a Santa Sé não aceitou o pedido do rei (e nem poderia, pois o casamento de Henrique VIII com Catarina era válido!), houve uma "rebelião" contra Roma, o que causou a "criação" da Igreja da Inglaterra, que mais tarde tornaria-se a Igreja Anglicana.

Como São Thomas More não aceitou prestar o devido juramento, este foi acusado e condenado por alta traição ao rei, que ceifou sua vida terrena, mas dando-lhe oportunidade de demonstrar de forma firme e verdadeira seu amor por Jesus Cristo. Foi no dia 1º de julho de 1535, numa quinta-feira, que Sir Thomas More foi a julgamento na mesma sala onde fora juiz da Suprema Corte em Westminster Hall, e ao final do julgamento, após sua condenação, ele enfim explicitou aquilo que guardara fielmente em sua consciência:

"Considerando que estais decididos a condenar-me - e Deus sabe como! - , manifestarei simples e livremente, para descargo da minha consciência, o meu parecer sobre o estatuto e a acusação. [...] Esta acusação baseia-se numa lei do Parlamento que repugna diretamente à lei de Deus e da Sua Santa Igreja. E nenhum soberano temporal pode arrogar-se o direito, por nenhuma lei, de assumir o governo suprema da Igreja, ou de uma das suas partes, uma vez que esse governo pertence por direito à Sé de Roma. Essa preeminência espiritual foi conferida pela boca do nosso próprio Salvador, quando estava pessoalmente presente sobre a terra, unicamente a São Pedro e aos seus sucessores, os bispos da Santa Sé. Portanto, a acusação não pode ser dirigida, entre cristãos, contra nenhum cristão".

Restou-lhe apenas aguardar o dia em que se cumpriria a pena capital por sua "traição" ao rei. Com a alma vibrante por sempre ter feito a vontade de Deus; e a coragem típica dos santos mártires, concluiu suas palavras já na "beira" da morte, afirmando: "Morro como fiel servidor do Rei, mas de Deus primeiro". Nesse sentido, recomendo a leitura do livro "A sós, com Deus: escritos da prisão" publicado pela Ed. Quadrante, bem como o livro "Utopia", um clássico da filosofia, que não pretende exaurir a temática que envolve questões sociais, mas apresenta pontos importantes a serem observados por quem busca melhorias para a coletividade, isto é, o bem comum.

Há poucos dias postei no facebook a seguinte frase de São Thomas More e posteriormente um breve comentário: "O homem não pode se separar de Deus nem a política da moral" (São Thomas More). 


O que aos poucos tem acontecido no Brasil é um distanciamento cada vez maior dos homens em relação a Deus; e a política dos verdadeiros princípios morais. Se seguíssemos as instruções do ex-chanceler britânico, assuntos como aborto, eutanásia e tantas outras mazelas seriam difíceis de serem "aprovadas e sancionadas" pelo Estado!

O ex-chanceler britânico foi proclamado Patrono dos Governantes e dos Políticos pelo Beato João Paulo II no dia 31 de outubro de 2000. Tarefa árdua para o santo, não acham? Leiam o Motu Proprio na íntegra neste link: http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/motu_proprio/documents/hf_jp-ii_motu-proprio_20001031_thomas-more_po.html

De um indigno escravo da Cruz e da Virgem Maria

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